NÃO TENHO NADA PRA COMEMORAR

Gostaria muito de estar aqui e agora de alto astral para desejar um feliz Dia do Trabalhador para todos os companheiros de labuta do nosso município. Todavia, os fatos recentes ocorridos com os servidores de Cabo Frio nos convidam mais para uma reflexão a respeito da atual relação patrão-empregado no âmbito da prefeitura do que para atitudes e frases comemorativas.

Presenciar a revolta dos guardas municipais e marítimos ambientais, que foram usurpados nas horas extras que trabalharam efetivamente a serviço da população, mas que na hora do "faz-me rir" não viram lançadas nos seus contracheques tampouco nas suas contas correntes a quantia correspondente, cortada sem prévio aviso, de forma autoritária e temerária.

Olhar para os meus colegas professores contratados recebendo metade do salário que por Lei lhes é devido por exercer a mesma função dos efetivos, e ainda assim com atrasos no pagamento que chegam a dois meses.

Chegar na UPA e ouvir de servidores contratados que foram obrigados a repor o dia que paralisaram por conta do corte das horas extras e dobras, que nem podem pensar em aderir aos protestos e muito menos às paralisações.

Receber relatos de servidores portariados e contratados que no interior de um campo de concentração aquático são periodicamente fotografados e proibidos de manter amizade com "suspeitos oposicionistas" no facebook, além de serem avisados que não podem se rebelar se porventura ficarem sem pagamento.

Ver o prefeito dizer, à moda do Capitão Nascimento, que "quem não estiver contente pode pedir para sair". Meu Deus, cadê o respeito pela pessoa humana, por quem muitas vezes se curva a mandos e desmandos por que precisa do salário para alimentar a si e a sua família? Onde aí a postura de uma pessoa que disse ter se convertido à fé cristã evangélica?

Todo esse leque de humilhações impostas aos companheiros que no dia a dia são a verdadeira força motriz da administração pública, aqueles sem os quais a população não receberia a prestação dos serviços garantidos pela Constituição, humilhações essas muitas das vezes com requintes de crueldade que trariam inveja a Hitler e Mussolini, é que nos impõem mais um estado de luto nessa data festiva do que nos remetem a ímpetos de comemoração.

É dessa forma que deixo aqui, ainda que de forma "anêmica" meus parabéns aos trabalhadores da nossa cidade, em especial aos companheiros servidores públicos, a quem peço que não reparem no estado de espírito desse que lhes escreve. Certamente, esse estado se renovará. Se não pelos frutos da luta e da mobilização que nos convoca diuturnamente enquanto oprimidos, o será pela oportuna saída do opressor pela porta dos fundos.